Hoje decidi ser apenas eu
sem precisar justificar minha existência no mundo.
Espreguicei demoradamente na cama
sem grandes planos
ou agradecimentos ao Divino.
Inspirei e expriei,
esse ato por si já configurou um milagre.
Algumas imagens de sonhos noturnos
ainda permaneciam vivas na memória.
Mas decidi não anota-las,
e deixei que pouco a pouco se apagassem.
Pois não queria sequer, pistas do meu inconsciente.
Pelo menos por hoje,
cansei de me analisar constantemente
e buscar falhas no meu caráter a serem melhoradas.
Apenas existo.
Então senti frio e me agasalhei.
Me servi de um café forte e quente.
Preparei uma comida que saciasse minha fome.
Caminhei para meu corpo ficar resistente.
Paguei minhas contas.
Quando tive tempo deitei no sofá,
li quatro ou cinco páginas de um livro.
Sem mágoas ou expectativas.
Apenas a contestação de estar viva.
Então somente hoje,
esqueci minha crise existencial,
minha saudade do que ainda não vivi,
minha dor mais profunda,
minha espera infinita,
meus sonhos interrompidos,
meu amor imorredouro.