Se soubéssemos que aquele seria o último verão a beira-mar, teríamos esgotado todas as possibilidades. Nos arriscaríamos para um pouco além da arrebentação, até que nossos corpos pudessem boiar de forma livre e sem risco.
Lembra daquela amendoeira enorme que sentávamos embaixo para nos proteger do sol e invariavelmente tirávamos um cochilo? Eu gostava demais daquelas tardes de verão e da sensação de sermos jovens.
Às vezes parecia que o tempo parava e a felicidade decidia dormir ao nosso lado.
Tínhamos sonhos clichês como devia ser. Uma casa, filhos, um cachorro. Tudo isso costurado em uma delicada colcha de retalhos de amor.
Talvez não fossemos tão bons tecelões, ou quem sabe, seja somente a vida. O tempo passou mais depressa do que supúnhamos, atropelando algumas horas de descuido.
Hoje, onde moramos, tudo é concreto. Atravessamos lutos e dores, outrora inimagináveis.
Às vezes parece até que nunca mais conseguiremos dormir em paz como fazíamos naquela sombra. Seguros de nós. E por tantas noites duvidei de sua presença ao meu lado, mesmo com olhos abertos.
Será que foi um sonho? Eu não devia ter mergulhado tão fundo, as ondas nos levaram para bem distante? Sigo com mais perguntas que respostas e estranhamento sigo ao seu lado.
Se eu for corajosa mais uma vez e encarar o mar novamente, será que periga deu me encontrar?