Cristiane Lemos - escritos
"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível..." Clarice Lispector
Textos

O futuro é uma incógnita. Essa cidade me faz sentir pequena e ao mesmo tempo pertencente. Me sinto aliviada e não angustiada com minha pequenez diante dos arranha-céus. Tudo é tão maior que ninguém repara em ninguém direito. Estranhamente não me sinto solitária. Parece que todo o concreto me envolve e não estou só, andando por avenidas, viadutos e vagões de metrôs, sempre tão abarrotados de pessoas, por todos os lados. Me sinto livre, muito mais que em campo aberto. Tomo sempre cuidado para não esbarrar em ninguém, ao mesmo tempo que sinto que tudo pode acontecer a qualquer momento, e um encontro casual pode mudar a minha história para sempre.

Nessa cidade tão distante do mar, continuo amando seus mistérios, sem que para isso precise sentir as ondas beijando meus pés. Por aqui consigo ficar horas em silêncio se necessário. E aprendi a conter minhas emoções, como se elas não fossem feitas para transbordar em vão. Uma intensidade desmedida habita dentro de mim, mas ninguém precisa saber que ela existe. Assim como quando vemos águas aparentemente calmas de um rio e não temos noção do redemoinho que pode nos carregar. Estou iniciando um processo de recolhimento. Há muito a fazer nos bastidores. Que o palco fique para os jovens, ele é feito para eles.

Quero passar horas a fio em uma livraria qualquer, na companhia de um bom livro e uma xícara de café, sem nenhum registro, sem que ninguém saiba. Primeiro você devora o mundo, depois há um longo período para ajustá-lo dentro do peito, rejeitar o que não mais nos serve e introjetar na alma o que nos atravessa. É preciso solidão e silêncio. É preciso incomodo e fome. É preciso angústia e lucidez. E tudo isso, pode ser configurado como loucura, para algum desavisado.

Muitas pessoas, aconselham sobre o quanto essa cidade pode nos devorar. Mas o que talvez muitos não saibam, é o quanto algumas pessoas necessitam serem devoradas por ela. Suas luzes artificiais, seus pores do sol mágicos, pintados com cores vibrantes pela poluição, seu caos tão organizado. Seus focos de incêndio e suas quedas de energia.

Hoje eu morreria nessa cidade e repousaria aqui pela eternidade. Parece que enfim eu encontrei o meu lugar no mundo, mesmo assim eu não me iludo, e sei que um dia tudo pode mudar, e eu precise mais uma vez ir embora. Mas por hora, eu fico e amo e desejo. E me deixo ser devorada por ela.

Tiane Maga
Enviado por Tiane Maga em 09/05/2025
Alterado em 09/05/2025
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